NOS SOPROS DA ALVORADA.
Há dias em que a saudade entra,
vagabunda,
pelas frestas da janela,
e me acorda com um beijo.
E, quando volto a dormir,
já não vou só.
A dor vem comigo.
É esse o peso das ausências que chegam
no sopro da madrugada.
O sopro inconstante que envolve e abraça, preenche e incomoda.
O sopro que nos lembra
que fica apenas o nada depois de tudo
porque o próprio mundo se perde
por entre as curvas cerradas ...
do desejo de vencer o impossível.
De olhos fechados,
vejo-me arrancada de sonhos mais doces,
pela vontade de poder tornar reais
essas mentiras
que a minha alma inventa para me manter viva. E abrir os olhos,
é somente encontrar a verdade,
envolta pelos sentimentos frios
que tentei esconder
no que há de mais profundo em mim.
A saudade.
Esse sopro constante
que me arrefece a alma e
me gela o coração.
Essa vaga de sentidos que
me tolhe nas dores mais insensatas.
É ela que me visita a cada manhã,
por entre a luz morna da alvorada
e o fim mal pressentido da escuridão.
Luz e trevas.
Memória e esquecimento.
Desilusão cantada e despida de razões.
É tudo isso que me acorda dos meus sonhos e me atira para as paradas...
de tortura lenta que me moem
ao longo de todo o dia.
Mas,
inconsciente do mal que causa,
é a saudade que me aconchega
e é ela que me canta uma canção de embalar para que durma um pouco mais.
É ela que se entranha nos meus sonhos
e me traz as visões mais belas
de tudo o que foi e já não é.
E é ela que me sorri quando
o sono me toma nos braços
e a dor atenua um pouco.
Há dias em que a saudade entra e me beija,
me fere.
E fico a pensar,
entre o sono e a consciência que está tudo bem. Talvez,
apesar de tudo, seja essa dor a única capacidade de sentir que me restou.
Então,
deixo a saudade entrar pelas frestas da janela e
abraço-a junto a mim.
Para sentir,
não importa o quê.
E adormecemos as duas
na dor mas com um sorriso no rosto
porque sabemos que,
independentemente de tudo,
somos uma da outra,
para sempre.
Marina Ferraz
Blog I believe... do you?
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