DE QUE FIBRAS VOS FIZERAM?
Hoje, dia nublado,
nublaram-se também os meus olhos, quando olhei dentro de mim, e abri meu baú de
lembranças.
Não são somente saudades
que molham assim os meus olhos, são fatos da vida que, retornando, me dizem
mais que as lembranças!
Falei do calor desta noite,
comparei com as noites tão quentes, em que dormíamos com as janelas abertas,
muitas vezes, colchões na varanda, e ainda assim, o corpo na cama era quente!
Esse foi o início da prosa,
inda agora na varanda, eu e Alcides lembrando, dos tempos idos. Sempre se ouve
falar que coração de pai e mãe não tem tamanho, mas qual seria o tamanho dos
vossos corações nesses dias que se foram?
De que fibras vos fizeram,
Iracema e Anísio?
Pergunto-me todo dia, se
herdei um pouco disso, não me vejo momento algum lutando a sua luta. Até porque
era muito mais que uma luta, era uma abnegação sem tamanho!
Dizem também os antigos,
que mães não sabem o que é o prazer de saborear seu pedaço de frango,
preferido, no almoço de domingo, pois serve seu prato, sempre, após servir toda
a família.
Não consigo entender,
nestas minhas lembranças doídas, como conseguiram fazer o milagre da
multiplicação. Já éramos tantos à mesa, e mesmo assim, sempre chegava mais um.
E não ficava por aí a tal
magia que tudo multiplicava, o mesmo se dava à noite, quando mesmo muito
cansados, a todos acomodavam, e as visitas que chegavam.
Naquele tempo, não víamos
essa parte que hoje me vem à memória.
Não tenho as lembranças
tristes, porque a ilusão se fazia presente, como a mágica da multiplicação dos
pães. Quanto terá vos custado?
Mas essa vida vivida me
trouxe por tantos caminhos, que olhando para traz, hoje vejo o que seus
sorrisos velavam.
Tantos momentos difíceis,
tantas noites não dormidas, tantas palavras caladas, tantos sorrisos chorados,
tantos olhares de cumplicidade, tanta servilidade oferecida, tantos sorrisos
promovidos, tanta alegria doada!
Veio-me agora à lembrança,
do tempo sem geladeira, um tempo de muita penúria, ainda assim, a magia
acontecia...
Chegou à casa uma geladeira, linda de encher
os olhos, e dentro, tudo de bom e não me esqueço... tinha azeitona! Preciso falar da alegria?
Agora meus olhos nublados,
viraram rios caudalosos e ainda têm a companhia do nó em minha garganta, que
interrompeu nossa prosa.
De que fibras vos fizeram?
Mas nada durava para
sempre, tudo era muito difícil e o sonho não cabia na vida real daquela
família!
Lá se foi a geladeira, um
belo dia, de volta, por falta de pagamento.
Mas a vida continuou,
acolhendo os que chegavam...
Sempre tinham mais à mesa
do que a comida que havia.
Então, me pergunto outra
vez, fostes feitos de que fibra? Pois
não me vejo assim, fazendo as suas mágicas, nem multiplicando o pão, em nenhuma
ocasião.
Será? Pergunto-me de novo,
Que lágrimas, dor e insônia,
fortalecem e transformam, a ponto de não viver,
Vivendo a vida dos outros?
De que fibra meus queridos,
De que fibras foram feitos?
Com certeza...
De aço e de dó!
E os forjaram no calor
emanado do seu próprio coração!
Lembrei dos meus..."De que fibra...". Meus olhos embaçaram..."De que fibra...". Acho que da mesma fibra de todo papai e mamãe, de verdade e cujos corações se derretem pelos filhos, sempre crianças... Sempre crianças, para nós, papais e mamães.
ResponderExcluirGrande abraço, Irani. Conseguistes outra vez. Muito obrigado!