O
FRÁGIL PODE SER MAIS FORTE?
Você sai de casa confiante,
se sentindo a mesma de todos os dias.
Ou melhor, sentindo-se a
mesma de tantos e tantos anos atrás.
Mas, a figura que você faz
de si mesma, nem sempre corresponde ao que reflete para outras pessoas.
E hoje eu saí de casa me
sentindo inteira, e retornei uma senhora idosa, frágil, desencantada, e com
certeza, não é assim que normalmente me vejo.
Tentei entender, busquei
respostas, mas o dia chegou ao fim, o sol adentrou o horizonte e a noite traz
um pouco mais de escuridão às minhas interrogativas.
O que justifica um ser
humano atacar, gratuitamente, a outro, com palavras grosseiras, quando
aparentemente, não há um que nem por quê?
Saí em busca de ajuda e
respostas para um problema e voltei com o mesmo problema e uma enorme angústia
por não entender nada da agressão verbal sofrida. Fiquei o dia todo tentando entender se a
maior infelicidade era a minha ou dela.
A minha infelicidade, se
dá, aos pensamentos que me entristecem, pois trazem a mim a certeza de que
envelheci, e a minha imagem reflete muito pouco respeito, como sabemos é tão
comum na nossa sociedade, não respeitar as pessoas mais velhas.
É real, envelheci!
Noutros tempos, talvez,
discutisse, gastaria uma energia enorme tentando fazer valer minha justiça. Até tentei argumentar, mas o absurdo me deixou
estática e arrasada.
Outra prova de minha
fragilidade foi que minha única reação foi parar na calçada e chorar, sem me
importar com quem visse.
Não tinha raiva. Tinha
tristeza, como tenho até então.
Passei um dia rememorando,
tentando ver onde eu poderia ter errado e não encontro o ponto onde coloquei
fogo no pavio e provoquei toda aquela explosão gratuita.
Concluo que, envelhecer é
algo que precisamos aprender, não só aceitar.
Aprender que o que sentimos
e vivemos dentro do nosso corpo nunca corresponde com o nosso exterior, e a
leitura que as pessoas fazem de nós são diversas.
São leituras feitas de
acordo com a forma como nos olham, essa é a primeira leitura, a mais
importante, a que pode nos levar ao paraíso ou ao inferno, dependendo do
sentimento que colocam nesse olhar. Mas há a leitura corporal que podem nos
colocar em posição de respeito ou em posição de possível vítima.
Deixei-me ser tratada
assim? Não creio que tenha permitido.
Talvez os meus anos de
vida, tenham me levado tão longe de fatos assim, que me estarreci, mas não
enraiveci, não veio ao meu coração o instinto natural de caça e caçador, que pudesse
me levar a uma defesa agressiva à altura. Umas lágrimas foram suficientes para
lavar minha alma ferida. Ficou essa certeza incômoda de haver refletido meus
anos de idade e a certeza da minha fragilidade haver fortalecido a violência
natural de outrem.
No final do meu dia, um
pensamento veio em meu socorro, e me trouxe paz.
“Fico triste quando alguém me ofende, mas, com certeza, eu
ficaria mais triste se fosse eu o ofensor”... Magoar alguém é terrível!
Irani
Martins
16/05/2016
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