Para comemorar, para conquistar ou simplesmente para degustar com um bom prato, o vinho pode ser a bebida ideal.
Foi-se o tempo em que o ritual de beber vinhos era necessariamente cheio de pompa.
Hoje, um leigo no assunto pode experimentá-lo sem precisar seguir a extensa cartilha dos experts, cheia de regras e convencionalismos.
"É caipira e atrasada a idéia de que para beber vinho é necessário excesso de requinte e sofisticação.
O vinho é uma bebida popular desde a sua origem", explica o enólogo Pedro França, palestrante responsável pelo curso básico de vinhos do Senac de São Paulo.
Ao lado do processo utilizado, são elas que definem as características do vinho.
Os tipos de vinho
Os tipos de uva utilizados, o processo de fabricação e a região onde são produzidos estabelecem os diferentes tipos de vinhos.
Veja abaixo quais são eles quais as suas características:
Tintos São produzidos com enorme variedade de uvas, com resultados que variam de acordo com a região e as técnicas de produção empregadas.
Podem ir dos mais leves e refrescantes, que devem ser bebidos imediatamente, a vinhos extremamente densos e encorpados.
Os mais leves são os Valpolicella e os Bardolino, na Itália, e o Beaujolais Nouveau, da Bourgogne francesa. Ainda entre os mais leves, porém mais sutis, estão os Bourgogne, Côtes-du-Rhône, a maioria dos Bordeaux (na França), Rioja (Espanha), Chianti (Itália), Dão, Douro e Bairrada (Portugal) e os Cabernet Sauvignon do Chile, Austrália e Nova Zelândia.
Outros são fortes, com grande concentração e cor profunda, e têm longa guarda, como o como os Cabernet Sauvignon da Califórnia (EUA), o Hermitage (francês), os Barolo e Brunello di Montalcino (italianos) e o Vega Sicília (espanhol).
É o caso dos Bordeaux brancos, dos Chablis mais simples, Aligoté e Mâcon (os três da Bourgogne francesa) e dos italianos Frascati, Verdicchio, Orvieto e Soave, entre outros. Podem também ser frutados e aromáticos. Como exemplos, os alemães do Reno e Mosela (Riesling), os franceses da Alsace (uvas Riesling e Gewürztraminer) e os da Nova Zelândia. Há ainda os encorpados e aromáticos: são os Bourgogne brancos - feitos de Chardonnay e maturados em barris de carvalho. Há também os melhores vinhos da Alsace (de Riesling e Gewürztraminer), do vale do Loire (Sancerre, Pouilly) e da Rioja espanhola.
São os chamados vinhos de sobremesa.
O doce característico vem da própria uva, sem a adição de açúcar.
O mais famoso é o francês Sauternes, da região de Bordeaux (uvas Sémillon e Sauvignon). RosésProduzidos com uvas tintas.
Durante a vinificação, a casca é retirada no meio do processo, de forma que tinja apenas levemente o vinho.
São produzidos na França, no vale do Rhône do Loire.
EspumantesFeitos de uvas brancas ou tintas, na maioria das vezes dão origem a vinho branco ou rosé, com gás.
O melhor exemplo é o feito na região de Champagne (na França).
No resto do país, são chamados de musseux ou crémant;
na Itália, spumante;
na Espanha, cava;
na Alemanha, sekt.
É o caso do vinho do Porto e do Madeira (Portugal), do Jerez (Espanha) e de vinhos utilizados em sobremesas, como os franceses Muscat de Beaunes-de-Venise, Rivesaltes e Banyuls e o português Moscatel de Setúbal.
São normalmente mais acastanhados.
ENTENDENDOOS RÓTULOS DO VINHO
Não é tarefas das mais fáceis decifrar as informações que vêm no rótulos dos vinhos.
Como não há regras para a a apresentação dos dados que os classificam, até os iniciados encontram dificuldades para interpretá-las.
Para facilitar a compreensão e padronização, o modelo francês de rótulo serve como referência para os demais países produtores.
Em geral, porém, os rótulos trazem os seguintes dados:
Nome do vinho
País de origem
Nome do produtor
Conteúdo da garrafa em unidade de medida
Graduação alcoólica
Região de origem
Nome do engarrafador
Termos de qualidade aprovados
Como armazenar os vinhos
Calor, mudanças bruscas de temperatura, luz, trepidação, baixa umidade e odores estranhos são os maiores inimigos dos vinhos.
Para não prejudicar o desenvolvimento de suas potencialidades - processo decorrente do envelhecimento - é necessário armazená-los em condições adequadas.
A melhor opção é acondicionar as garrafas de vinhos em adegas.
Para quem não tem muito espaço em casa, a aposta é investir em adegas portáteis, espécies de armários refrigerados que respeitam as condições de temperatura e umidade ideais para a conservação dos vinhos (entre 11ºC e 17ºC, e 70% de umidade relativa do ar).
Para quem tem espaço, construir uma adega climatizada em casa é mais vantajoso.
No espaço escolhido, coloca-se um equipamento de refrigeração para manter a temperatura ideal.
Se você não tiver dinheiro para investir em uma adega, a sugestão é manter os vinhos em lugar fresco, ao abrigo da luz e do calor - sempre em posição horizontal.
Um espacinho debaixo da escada seria o lugar mais apropriado. Nesse caso, porém, não vale a pena guardar vinhos caros e preciosos, que precisem de muitos anos para envelhecimento.
Taças e quantidades de vinho
Existem diversas taças, adequadas para os mais variados tipos de vinhos. Mas você precisa, basicamente, de apenas quatro:
Taça porto Ideal para o vinho do Porto, que é extremamente alcoólico (20%) e possui muitos aromas. A taça é pequena, com bojo pequeno em relação à altura.
Borgonha - tinto O bojo é mais largo e a altura é baixa. Há maior espaço para a respiração vinho. Serve para vinhos mais ácidos e que pedem maior oxigenação.
Bordeaux - tinto A taça é mais alta e o bojo é pequeno. Serve para vinhos mais suaves e propicia a volatização dos aromas.
Chardonnay - branco O bojo é maior e a altura é baixa devido ao alto grau de acidez da uva, que precisa oxigenar e volatizar aromas.
Sauvignon Blanc - branco O bojo é menor e a altura é maior para proporcionar menor contato com o ar. A uva é delicada, com grandes aromas
Atenção: Se você não tiver copos de cristal, você pode servir em copo de vidro comum.
O vinho não vai deixar de perder a importância se ele for de boa qualidade.
Vinho ruim é imperdoável e inesquecível, uma vez que a dor de cabeça pode quase se perpetuar.
Veja quais são as quantidades que você deve servir por pessoa.
1 taça de vinho ou espumante no aperitivo
1/2 garrafa durante a refeição
1 taça de vinho com os queijos
1 taça depois do jantar
Etiqueta, verdades e mentiras
A maior regra na arte de apreciar um bom vinho é que toda a regra - principalmente as conservadoras e não justificadas - podem (e às vezes devem) ser quebradas.
Mas, claro, há regras que têm razão de existir.
Veja dez dicas para não fazer feio na hora de degustar um vinho:
1. Não existem regras rígidas Antes de se tornar um expert em vinhos, é preciso saber que não existem regras rígidas para consumi-los.
2. As normas convencionais, citadas em manuais de connaisseur, devem ser consideradas apenas como recomendação - e não como uma imposição.
3. Transgredi-las é possível, sem que isso seja um sacrilégio.
4. Você já deve ter ouvido que, ao contrário dos vinhos brancos, os tintos só podem ser servidos em temperatura ambiente.
Esqueça essa. Como no Brasil a temperatura ambiente é normalmente mais alta do que a dos países europeus - mesmo nas estações frias - vale refrescar o vinho no refrigerador por alguns minutos (mas nunca no freezer ou no congelador). 5. Não escolha vinho no "uni-duni-tê" Lembre-se que não há nada mais deselegante que servir vinho sem conhecê-lo. Ninguém tem obrigação de ser uma enciclopédia de enologia - perguntar, porém, não custa nada.
6. Idade não significa qualidade Quanto mais velho, melhor o vinho. Certo?
Não necessariamente. Um vinho ruim pode ficar décadas oxigenando em barris de carvalho e continuará ruim. Quanto aos vinhos reconhecidamente bons, o que vale é ficar atento à safra - é mais importante saber se o ano em que o vinho foi fabricado teve uma boa safra do que sua idade.
7. Preço (também) não significa qualidade.
8. No restaurante, prove antes de servirQuando você vai ao restaurante, o garçom sempre serve um pouco de vinho na taça para degustação. Esse não é um ritual injustificado, ao contrário do que possa parecer. Um vinho mal conservado torna-se ácido ou acre - ao prová-lo antes, portanto, estará se salvando de comprar gato por lebre. Ou melhor, vinagre por vinho.
9. Mexer o vinho não é frescura Você já deve ter visto as pessoas mexerem a taça com o vinho antes de bebê-la - esse, também, não é um ritual injustificado. Ao sacudi-la em movimentos circulares, você está ajudando a oxigenar a bebida, deixando-a com o aroma mais apurado. O macete, porém, deve ser usado de forma criteriosa. Se a garrafa do vinho já estiver aberta em cima da mesa, ele torna-se desnecessário.
10. Vinho deve ser servido em taça para vinhosPode acreditar: os connaisseur são terminantemente contras os rituais injustificáveis ao degustar vinhos. Usar uma taça adequada, porém, não se enquadra nessa categoria. Copos para vinho devem necessariamente ter haste e bojo, para que o calor das mãos não altere o sabor da bebida. Outro detalhe: a taça deve ser necessariamente incolor, para que se possa apreciar a tonalidade da bebida. Pela cor, inclusive, você pode até ter noção da idade do vinho: se sua cor é um vermelho rubi, bem vivo, pode ter certeza de que é um vinho jovem. E se for mais escura, quase acastanhada, trata-se de um vinho mais envelhecido.
11. Vinhos jovens precisam respirarLembre-se de que os vinhos jovens (engarrafados recentemente) devem ser abertos uma ou duas horas antes de serem servidos, para que oxigenem, o que melhorará sensivelmente o seu sabor. Já um vinho mais antigo deve ser aberto na hora de servir, pois ele já foi suficientemente oxigenado durante os anos de envelhecimento.
12. Adega não é coleção de vinhosConservação é (quase) tudo quando se trata de vinhos. Por isso, se você não tem uma adega em casa, de nada adianta comprar bons rótulos para deixar de "reserva".
13. Vinho deve valorizar o prato Vinhos brancos são ótimos acompanhamentos para carnes brancas (aves, peixes, crustáceos). Na verdade, o vinho branco pode acompanhar qualquer prato, até mesmo as massas. Ao contrário dos vinhos brancos, os tintos já exigem alguns cuidados. Eles são especialmente recomendáveis para acompanhar queijos, carnes de vaca e de porco, caças, presuntos etc. Mas não devem acompanhar saladas temperadas com vinagre, crustáceos ou pratos com molho branco. Os tintos também não combinam com sobremesas de doces ou chocolate.
Vinhos X Refeições
Os vinhos devem fazer uma parceria perfeita com os pratos para que ambos tenham as qualidades ressaltadas. Combinar vinhos com comida é um dos grandes temores de quem está se iniciando na arte da degustação. Mas não existem grandes mistérios.
Segundo o enófilo e diretor da Academia do Vinho, Carlos Arruda, o bom senso é fundamental. Uma comida gordurosa cai melhor com um vinho mais ácido, já uma refeição leve e de sabor suave pede um vinho de mesma intensidade para que um não prevaleça sobre o outro. "O acompanhamento ou o molho são mais determinantes na escolha do vinho do que o tipo de alimento. Uma massa, teoricamente, pede vinho tinto, mas se o molho for branco, a combinação fica melhor com vinho branco", diz o especialista.
Com o tempo, a harmonização entre bebida e alimento fica mais evidente. Até isso acontecer, vale usar as "regrinhas" pré-fabricadas para evitar gafes. Confira as sugestões do enófilo:
Aperitivo
Vinho branco seco ou vinho fortificado seco. Exemplos: Porto White ou Dry White, Jerez Fino, Manzanilla ou Amontillado, Madeira Sercial, Marsala seco etc.
Espumante Brut. Exemplos: Champagne, Sekt, Cava, Blanquete de Limoux, Champanha etc.
Vermute secoSobremesa
Vinho branco doce de qualidade
Exemplos: Sauternes, Alsace, Vendange Tardive, Séletion de Grains Nobles, Tokay e os alemães com os predicados "mit Predikat": Auslese, Beerenauslese, rockenbeerenauslese e Eiswein.
Vinho fortificado Demi-sec ou doce Exemplos: Porto, Ruby, Tawny, LBV, Vintage, Jerez (Amoroso, Oloroso ou Cream); Madeira (Verdelho, Boal ou Malmsey), Moscatel de Setúbal, Banyuls, Moscato d'Asti, Banyuls, Marsala, Málaga (Lagrima Christi) etc.
Espumante Demi-sec ou doce
Exemplos: Asti (italiano), Cava (espanhol), Champagne Doux (francês), Sekt Suß (alemão), Blanquete de Limoux (francês) e outros espumantes.Digestivo
Repete os ideais para aperitivos e sobremesas.
Destilados de uva, Cognac, Armagnac e Marc (franceses), Bagaceira (portuguesa), Grapa (italiana) etc.Refeições
Peixes e frutos do mar grelhados ou em molho leve:
Espumante brut ou demi-sec ou branco seco frutado jovem ou levemente maduro
Em molho forte:
Branco maduro de boa estrutura ou rosé seco de qualidade ou tinto jovem de médio corpo
Bacalhau:
Tinto jovem ou de médio corpo ou branco maduro;
Anchova, atum, salmão e sardinha:
Tinto jovem ou de médio corpo ou branco maduro ou rosado
Carnes brancas grelhadas ou em molho leve:
Espumante brut ou branco seco jovem de boa estrutura ou maduro ou tinto jovem ou de médio corpo
Grelhadas em molho forte:
Tinto maduro de médio corpo a robusto
Caças de penas, pato e coq au vin:
Tinto maduro de médio corpo a robusto
Peru:
Tinto leve ou médio ou branco seco
Foie gras:
Branco doce de alto nível (Sauternes, Tokay etc.) ou fortificado doce (Porto Vintage etc.) ou espumante de qualidade (Champagne Milesimé etc.)
Carnes vermelhas grelhadas ou em molho lev
Espumante brut ou tinto jovem leve ou de médio corpo
Em molho forte:
Tinto maduro de médio corpo a robusto
Caças de pêlo:
Tinto maduro robusto
Massas em molho leve ou branco:
Espumante brut ou branco jovem ou maduro ou tinto jovem leve ou de médio corpo
Em molho condimentado ou vermelho:
Espumante brut ou tinto maduro de médio corpo a robusto
Queijos- Fresco de massa mole (Frescal, Ricota, Requeijão):
Branco ou tinto jovem e leve- Fresco de massa filada (Mozzarela):
Branco ou tinto jovem e leve- Maturado de massa mole (Brie, Camambert e Coulommiers): Branco maduro ou tinto jovem a maduro encorpado- Maturado de massa filada (Provolone):
Branco maduro ou tinto jovem ou pouco envelhecido- Maturado de massa semidura (Emmental, Gouda, Reino, Prato, Saint-Paulin, Tilsit, Port-Salut):
Tinto maduro de bom corpo- Maturado de massa cozida (Roquefort, Gorgonzola, Stilton, Danablue):
Tinto maduro robusto ou branco doce superior ou fortificado doce- Maturado de massa semidura (Emmental, Gouda, Reino, Prato, Saint-Paulin, Tilsit, Port-Salut):
Tinto jovem ou pouco velho - Maduro de massa dura (Parmesão, Pecorino):
Tinto maduro robusto ou fortificado* Observação:Os espumantes de qualidade, em especial os Champagnes, combinam com todos os tipos de queijo. Alimentos que não combinam com vinho
Temperos acentuados: curry, dendê, shoyu, wasabi etc.
Alimentos ácidos: vinagre, limão, laranja, grapefruit, kiwi etc.
Verduras e legumes: alcachofra, aspargo, couve etc.
Outros: ovo, chocolate, sopa, feijoada etc.
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