Para minha mãe ...IRACEMA
Ela me amou... a ponto de querer sempre estar comigo.
Preferindo minha presença à sua privacidade.
E esperou...
Esperou que eu crescesse, que amadurecesse e entendesse.
Entendesse a importância de se ter uma cumplicidade de amor.
De estar junto por querer estar, por vontade de ali ficar, por interesse de ouvir contar...
Tantos fatos vividos e não percebidos, dada a urgência de estar crescendo e vivendo sem tempo para se deter.
Aprende-se a olhar o belo quando não mais corremos ao acaso, buscando conhecer a vida.
Aprende-se a ouvir o belo, quando já vivemos um pouco do mundo e selecionamos a importância das palavras, atento a todos os ruídos, mas se detendo somente nas palavras belas.
Mas, de todo o belo apreendido o mais perfeito que conheci foi ela.
Nos seus cabelos brancos, lindos, emanando um respeito que só se adquire vivendo, vivendo e amadurecendo.
No seu olhar que transfere o que vai no coração.
Nas suas mãos, que transbordam carinhos, e não conseguem, contudo me mostrar todo o seu amor.
E ela espera...ainda...
Eu sou toda a sua esperança...
E ao me ver... ela renasce.
Vive através de mim... e do que represento para ela.
E conta ... e reconta...
E espera que eu ouça...
Os fatos... os sonhos...as tristezas.. , as mazelas.
A sua estória sobre a sua vida.
Eu aprendi a ouvir a magia, imaginar as cenas, e a desejar ser como ela.
Pena que tantos anos se passaram e eu os perdi, na urgência da ilusão que se foi, eu não os vivi como devia.
Só agora, vi o verde, a neblina, o orvalho, as folhas secas, o frio, a neve, a luz do sol, a brisa se transformando em vento, a chuva, o verdadeiro cheiro do mundo.
Só agora eu a vi.
No reflexo da minha vida, encaixei a sua.
E o tempo ficou curto.
Ouvirei outras estórias ?
Descobrirei outros tesouros na comunicação muda do seu semblante?
Olharei novamente nos seus olhos, mergulhando no seu orgulho de mim?
Que fiz para merecer?
Apenas...e apenas isso...
Ela me quis e me amou por mim apenas.
Eu precisei de todos estes anos, para conhecê-la, querê-la mais e amá-la verdadeiramente.
Irani / 02.11.2003